O squad como formato organizacional ágil por excelência requer que cada membro da equipe – e, sobretudo o líder – seja emocionalmente ágil. Descubra como fazer isso.
Comecei a trabalhar aos 14 anos, mas meu primeiro “emprego de verdade” depois da faculdade foi como redatora técnica em uma empresa de treinamentos da Nova Zelândia. Eu não tinha pensado muito a respeito do que queria fazer com a minha vida, mas naquele emprego foi que me dei conta de que redação técnica não era o que eu desejava. Eu simplesmente detestava o trabalho.
Todos os dias eu saía na hora do almoço com outra jovem que também trabalhava lá e desabafávamos, falando mal dos nossos colegas, das nossas tarefas, da nossa chefe e praticamente de tudo mais. Depois, voltávamos para o escritório e nos comportávamos como se tudo estivesse maravilhoso.
Só que passar a hora do almoço ruminando as coisas com minha colega e depois voltar para o escritório e me fingir de boazinha não fazia com que eu me sentisse melhor nem ajudava muito o meu desempenho no trabalho.
Hoje sei que eu estava enredada em meu trabalho, ou seja, era vítima de um enredo que tinha criado para mim mesma. Agora enxergo claramente o que precisava ter feito. Em primeiro lugar, devia olhar de frente meu trabalho – minha frustração, minha falta de afeto –, e examinar o que os estava alimentando. Em meu caso, era a falta crônica de desafio. Em segundo lugar, precisava me afastar desse sentimento de tédio para desenvolver uma perspectiva mais ampla que me ajudaria a dar passos em direção ao que seria mais construtivo.
Em terceiro lugar, eu tinha de ser coerente com minha motivação no âmbito profissional. Precisava fazer o melhor trabalho possível, desenvolver todas as habilidades e contatos que pudesse, usando meu emprego enfadonho para me ajudar a aprender mais a respeito do que eu realmente queria fazer. Mas também tinha de achar algo que me fizesse querer trabalhar ali, enquanto algo novo não aparecesse.
Assim, eu precisava partir para o quarto passo do processo de agilidade emocional, o de seguir em frente, usando minha energia para procurar um novo emprego ou modelar aquele. Sim, se por alguma razão – dinheiro, timing, localização, economia –, você tem de se manter em um emprego que não o desafia, você deve modelá-lo para que ele melhore.
Neste artigo, vou me concentrar no terceiro e no quarto passos.
Encontrando sua motivação
É claro que todo emprego, seja ele redigir textos técnicos, cultivar palmeiras, gerenciar negócios ou pessoas, seja vender napalm, envolve um trabalho físico ou intelectual – ou ambos. Mas todo emprego também envolve o que os psicólogos chamam de trabalho emocional, a energia empregada em manter a fachada pública exigida em qualquer emprego e, na verdade, em praticamente toda interação humana.
Se você está no mundo do trabalho, sem dúvida já riu educadamente de uma piada que não achou nem um pouco engraçada porque foi seu chefe quem a contou. Você provavelmente já exibiu uma expressão alegre em alguma atividade quando tudo que queria na verdade era estar em casa, na cama, lendo um bom livro. Até certo ponto, o trabalho emocional diz respeito ao que chamamos de ser educado, ou sobreviver. Todos fazemos isso, geralmente é inofensivo, e é socialmente mais inteligente sorrir para sua anfitriã e elogiá-la pelo prato de coq au vin que você detesta do que colocá-lo na boca e cuspir.
Entretanto, no trabalho, quanto mais você falsifica suas emoções, mais sua situação piora. Uma incongruência grande demais entre a maneira como você realmente se sente e a maneira como você finge estar se sentindo se torna um fardo tão grande que conduz ao esgotamento e a todos os tipos de consequências negativas relacionadas a ele no trabalho, tanto para você quanto para a organização, em parte porque isso é terrivelmente exaustivo.
É desnecessário dizer, como qualquer pessoa que já teve um dia ruim no trabalho sabe, que o que acontece no trabalho também pode se infiltrar em sua vida pessoal. Se você passou o dia fingindo estar empolgado porque seu colega recebeu o grande projeto que você achava que já era seu ou dando a impressão de estar alerta em uma reunião de três horas sem sentido que o impediu de fazer o seu trabalho de verdade, você está sujeito a ir para casa soltando fumaça. Você talvez tenha vontade de ir à academia ou desfrutar um jantar descontraído, mas está tão desgastado por causa do seu desempenho do dia digno de um Oscar e tão desconectado de seu eu essencial, que não consegue reunir forças para fazer nenhuma das duas coisas.
O que fazer? Profissionais da indústria hoteleira passam bastante tempo em um inferno de representação superficial (“Claro, senhor. Pedimos desculpas porque seu jantar chegou três minutos atrasado, senhor”; “Sem dúvida, senhora. Ficaremos encantados em lhe enviar um robe mais macio”).
E um estudo procurou empregados de hotel para avaliar os efeitos da repressão de sentimentos no trabalho e o conflito conjugal em casa. No entanto, a facilidade com que os funcionários dos hotéis são capazes de demonstrar hospitalidade e atenção depende, em grande parte, dos valores que eles levam para o trabalho. Se a pessoa adora de fato encantar outras pessoas e garantir que elas apreciem sua viagem, ela não está, de modo algum, representando superficialmente.
Para tomar decisões que se harmonizem com a maneira como você deseja viver e ter o trabalho e a carreira que deseja seguir, é preciso estar em contato com as coisas que importam para que possa usá-las como indicadores. É sendo coerente com seus motivos no trabalho – agindo de acordo com o que importa para você – que você se torna mais interessado e capaz de ter um desempenho no auge das suas habilidades.
Modelando seu emprego
Modelar o emprego envolve examinar criativamente as circunstâncias de seu trabalho e descobrir maneiras de reconfigurar sua situação para torná-la mais envolvente e satisfatória. Os funcionários que tentam modelar o emprego acabam com frequência mais satisfeitos com sua vida profissional, alcançam níveis mais elevados de desempenho nas organizações e relatam maior resiliência pessoal.
O primeiro passo para modelar o emprego é prestar atenção a quais atividades – no trabalho ou fora dele – mais lhe atraem. Talvez você não ocupe um cargo de gerência no escritório, mas adora ser o treinador do time do seu filho nos fins de semana. Que tal começar um programa de mentoring no escritório no qual ofereça orientação para funcionários mais jovens ou instituir na empresa um Dia de Levar seu Filho para o Trabalho? Ou talvez você tenha notado que, embora esteja no departamento de vendas, tem constantemente ideias de marketing – algumas das quais foram efetivamente bem recebidas e implementadas por outros departamentos da companhia. Você poderia pedir para comparecer às reuniões semanais de estratégia do departamento de marketing? Poderia se oferecer para apresentar sua perspectiva de vendas para ajudar no processo? Existe um treinamento militar básico que diz: “Nunca se ofereça como voluntário” – a ideia é que se um recruta levantar a mão quando um superior disser “preciso de um voluntário”, ele ficará condenado a fazer uma coisa desagradável, como limpar os banheiros (sem dúvida, o corolário disso é que se você não se oferecer como voluntário, é provável que seja simplesmente obrigado a fazer o que não quer). No entanto, no caso de desenvolver uma carreira civil, ser voluntário é uma excelente maneira de ampliar os limites de sua função.
Você também pode praticar o princípio de modelar seu emprego modificando a natureza ou a extensão de suas interações com outras pessoas. Você talvez tenha novos imigrantes no chão de fábrica. Vá conversar com eles. Você pode criar um programa de Inglês como Segunda Língua. Ou talvez possa obter a perspectiva cultural deles sobre a linha de produtos atual e sua empresa e usar essa perspectiva para diversificar os lançamentos da companhia.
Ainda é possível modificar a maneira como você enxerga o que faz. É possível que você tenha recebido recentemente uma grande promoção, mas agora, em vez de fazer o trabalho que adora, esteja tendo de cuidar da parte administrativa. Você se tornou apenas outro burocrata? Só se você considera organização o mais importante. Se você valoriza ser um professor e mentor, um líder que ajuda as pessoas a realizarem seu potencial e melhorarem suas vidas, então você pode ser muito criativo ao administrar pessoas.
É claro que modelar o emprego tem seus limites. Você não pode simplesmente parar de executar a tarefa para a qual foi contratado enquanto experimenta diferentes opções de carreira. E é possível que sua empresa não tenha os recursos para ajudá-lo a implementar suas ideias grandiosas, por mais notáveis que elas sejam.
Por isso que é importante ser aberto em relação ao processo. Para obter apoio para suas ideias de modelar o emprego, você precisa se concentrar em maneiras de obter o que deseja e também criar valor para a organização. Você também tem de ganhar a confiança dos outros, especialmente de seu supervisor, e depois dirigir seus esforços para as pessoas que estejam mais propensas a ajudá-lo. Seu gerente pode até mesmo ser capaz de auxiliá-lo a identificar oportunidades de redistribuir tarefas de maneiras complementares. Afinal de contas, a tarefa que você considera terrível pode ser a oportunidade dos sonhos do seu colega, ou vice-versa.
Importante: nenhuma tentativa de modelar o emprego o ajudará a criar o trabalho perfeito (mesmo que tal coisa existisse) se você estiver começando em uma função totalmente errada para você. Modelar o emprego nunca me faria feliz, por exemplo, como redatora técnica, por mais que eu ajustasse a minha situação. Motivo pelo qual, uma vez mais, é superimportante olhar de frente todas as suas emoções e aprender tanto com as negativas quanto com as positivas.
Porém, ao sermos emocionalmente ágeis, podemos usar o emprego errado para obter a perspectiva, as habilidades e as conexões necessárias para chegar ao emprego certo. Nesse meio-tempo, podemos usar a agilidade emocional para aproveitar ao máximo, todos os dias, o emprego que temos agora. É assim que garantimos que não estamos apenas ganhando a vida, mas também realmente vivendo.
Como psicóloga, Susan David constatou que os livros e os filmes mais envolventes são aqueles cujos enredos privilegiam os conflitos internos do herói, que eram parte de sua natureza. Como em Noiva em fuga, que mostra uma jovem com medo de compromisso. Para David, cada pessoa é como um roteirista de Hollywood, criando narrativas para si mesma.
David criou, a partir disso, o conceito de “ficar enredado”, submetido a um enredo. “Na nossa vida, ficamos enredados ao sermos capturados por uma emoção, um pensamento ou um comportamento autodestrutivo”, ela escreve. Todos temos o costume de aceitar esses autoenredos sem questioná-los, sejam maiores (“sou um introvertido e ninguém gosta de mim”) ou menores (“o colega roubou minha ideia”).
Para David, o indivíduo enredado é o antônimo do indivíduo emocionalmente ágil. Para tornar-se o segundo tipo, não é preciso controlar o pensamento ou obrigar-se a pensar de maneira mais positiva. Pesquisas já mostraram que isso não funciona; quando tentamos corrigir algo, ficamos obcecados por aquilo. A chave é relaxar e viver com propósito.
No livro Agilidade emocional, a autora sugere quatro fases para chegar a isso: encarar as questões, afastar-se para avaliá-las racionalmente, ser coerente com suas motivações e seguir adiante (ou modelar o que se tem) – o processo ilustrado neste artigo.