Reflita um pouco sobre as transformações do ecossistema de RH.
A grande maioria de nós, profissionais de Recursos Humanos, conhece o conceito de mundo VUCA (acrônimo de Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity, em português volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade) bastante difundido desde as décadas de 1980/90.
Conhecemos também o mundo MUVUCA, uma atualização recente do conceito VUCA. Nesse “mundo” foram acrescentados o M (Meaningful) e U (Universal) que traduzidos querem dizer Significado e Global, respectivamente. Ou seja, devemos entender que toda ação precisa ter significado, propósito e tem impacto global.
Mas, como tudo está acelerado e a MUVUCA é geral (perdoe o trocadilho sem graça), pouco antes de 2020 foi criado o conceito de mundo BANI (Brittle, Anxious, Nonlinear, and Incomprehensible) que significa frágil, ansioso, não linear e incompreensível. Esse conceito ganhou força e se firmou com a chegada e permanência da pandemia, mas o que cada letra desse acrônimo sugere?
Brittle (Frágil) — A fragilidade é evidente. Num piscar de olhos podemos não estar mais aqui, podemos não ter mais emprego, sermos obrigados a nos reinventar em esferas pessoais, familiares e/ou profissionais. O episódio mais recente é o vírus, mas muitas outras possibilidades existem para comprovar essa afirmação.
Anxious (Ansioso) — Como não ficarmos ansiosos com tudo que está acontecendo, com tantas perguntas sem respostas, com diversos acontecimentos, notícias e informações surgindo a cada segundo? Por isso, é cada vez mais importante cuidarmos de nosso corpo e mente.
Nonlinear (Não Linear) — Uma realidade planejada, com metas e resultados claros, dá espaço a um mundo onde tudo acontece ao mesmo tempo e, em muitas situações, por caminhos e para finalidades diferentes.
Nesse caso, muitas conexões podem passar despercebidas, muitos projetos se “esbarram”, complementam ou sobrepõem-se. Temos que ter sabedoria para enxergar essas relações, adaptabilidade para encarar as circunstâncias adversas, além de paciência para replanejar as rotas até chegarmos ao destino final.
Incomprehensible (Incompreensível) — Substitui o Ambíguo do mundo VUCA, ou MUVUCA. Nele, tínhamos diferentes mensagens, mal-entendidos ou à impossibilidade de entender completamente uma situação.
No caso do incompreensível, como o nome sugere, existem coisas que não entendemos hoje e não entenderemos no futuro. Mesmo sendo especialistas no assunto, com tantas mudanças e na velocidade que acontecem, será difícil ou impossível a compreensão de como determinadas coisas, processos e projetos funcionam, ou como determinada situação acontece ou aconteceu. Precisamos ter clareza da situação, transparência para lidar com ela e, se possível, passarmos bem pelo que for incompreensível.
Como profissionais de RH, como podemos lidar e ajudar nossas empresas perante tudo isso?
A verdade é que não há uma resposta única para essa pergunta. Existem caminhos possíveis e, para mim, um deles começa a partir da seguinte frase de Nassim Taleb*:
“…um profeta não é alguém com visões especiais, é apenas alguém cego para a maior parte das coisas que os outros veem”.
Então, qual caminho possível sugiro a partir dessa conhecida frase de Taleb?
O caminho da inquietação e do inconformismo! Não podemos mais aceitar o “foi sempre assim” ou “não podemos/não vai dar certo”. 2021 é o ano de confiar em nossa capacidade, sair do comodismo e buscar soluções para os desafios e não apenas apontar problemas para as soluções apresentadas. Temos que encarar cada problema como um desafio a ser superado, com soluções inovadoras, eficientes e eficazes
O da inquietação e do inconformismo! Não podemos mais aceitar o “foi sempre assim” ou “não podemos/não vai dar certo”. 2021 é o ano de confiar em nossa capacidade, sair do comodismo e encarar cada problema como um desafio a ser superado, com soluções inovadoras, eficientes e eficazes.
Precisamos buscar e enxergar quais são as competências e habilidades reais que, mesmo ninguém vendo ainda, farão a diferença daqui em diante. Quais novos formatos de remuneração, projetos, benefícios e trabalho, entre tantos outros temas, processos e sistemas, que ninguém está praticando?
É também imprescindível ter clareza de quando é necessário descontinuar, adaptar ou criar algo de fato; entender quais cuidados são/serão necessários, dispensáveis, indispensáveis ou obrigatórios.
Em 2020, tivemos a oportunidade de colocar em prática parte do que foi descrito aqui e os resultados obtidos foram surpreendentes e inspiradores. Entregamos muitas coisas que levariam meses ou anos, por necessidade ou oportunidade, em muito menos tempo.
Dentre essas entregas, algumas pareciam inviáveis, insensatas ou simplesmente não estavam planejadas. Essas iniciativas e soluções reforçaram a importância do constante aprendizado e evidenciaram que, cada vez mais, nada é tão certo ou dura para sempre e, além disso, o quão importante é nos desafiarmos a buscar algo a mais.
Temos hoje muitas interrogações, mais dúvidas que certezas, mas, ouso dizer, uma das poucas certezas é a que podemos ler nas entrelinhas de Nassim Taleb, “aqueles que se mantém inconformados, incomodados e indagadores do status quo estarão sempre em busca das coisas que os outros não veem e, por consequência, um passo à frente para encontrá-las”.
Bruno Xotta é graduado em design digital, MBA em Administração e Marketing, Licenciatura em Artes e algumas especializações em Inovação e Agile. Atualmente atua na área de inovação do RH, pensando e buscando soluções para apoiar as áreas de transformação.
* Nassim Taleb, dentre outras atividades, é escritor e autor de obras como “A lógica do cisne negro” e “Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos”. No link https://fia.com.br/blog/antifragil/ há um breve relato das obras e comentários sobre o autor.